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terça-feira, 31 de maio de 2011

Por que Marx não era Positivista? apontamentos para um estudo

POR QUE MARX NÃO ERA POSITIVISTA?
Apontamentos para um estudo
O cinismo da razão desprovida de razão vigora no ambiente acadêmico e considera Marx positivista. A seguir, apresento alguns apontamentos contra essa razão cínica que age à revelia do conhecimento. Para o positivismo de Augusto Comte, o estado positivo (a ciência, a indústria e o capitalismo) e as ciências do homem (ciências humanas), em particular a Física Social ou Sociologia, operam com leis universais e necessárias. A sociedade tem leis, tal como as leis da natureza. Compreender o funcionamento dessas leis é poder controlar e prever os acontecimentos sociais. Há uma ordem na natureza e essa ordem deve acompanhar o funcionamento da sociedade; só haverá progresso se houver ordem. Isso significa que não é possível modificar situações de opressão social, de exploração de uma classe por outra, tal como defendera Marx. O que se espera é que haja harmonização dos conflitos sociais, dar continuidade ao estado de exploração e opressão de uma classe social sobre a outra. Para o fundador do positivismo, o que vale é a manutenção da ordem social estabelecida. O capitalismo é, pois, o � �ltimo estágio, o ápice da evolução do pensamento da humanidade. Em outras palavras, Comte acreditava na submissão dos trabalhadores aos capitalistas, de tal forma, que sua doutrina positivista cumpriria a função reguladora e preparadora dos proprietários capazes de convencer os trabalhadores a respeitarem e mesmo reforçar "as leis naturais" da concentração do poder e da riqueza. Marx, no primeiro livro de O Capital, escreveu: “Augusto Comte e sua escola procuraram demonstrar a eterna necessidade dos senhores do capital; eles queriam tão bem quanto e com as mesmas razões, demonstrar a eterna necessidade dos senhores feudais” (p. 631). Ao invés de leis deterministas, que operam dentro da lógica formal, Marx afirmou que o que há são leis de tendência.

Para Marx, a história não é concebida como o desenvolvimento linear do pensamento, mas, da ação dinâmica e contraditória dos conflitos vivos entre grupos sociais. Marx não pretende, assim como Comte, criar uma teoria de reconstrução das crenças morais da sociedade. Enquanto Comte deseja manter os interesses e conquistas dos burgueses, dos capitalistas e argumenta que os trabalhadores devem manter-se resignados e aprender com as mulheres (consideradas naturalmente inferiores e fracas em relação aos homens), Marx, ao contrário, defendeu ativamente a emancipação geral: não de um indivíduo, grupo, etnia, classe social ou casta. Ele apenas identificou que essa emancipação geral não seria alcançada por nenhuma lei da boa vontade e não chegaria dos céus, mas, deveria haver um processo de enfrentamento das forças hegemônicas (políticas e econômicas).

Marx opera no âmbito de uma ontologia do ser social e Comte a partir de uma teologia profana e de uma ciência ideologizada - cientificismo - a partir de uma lógica formal que concebe a história como algo linear, cumulativa, que caminha sempre para o melhor e da ideia de neutralidade científica.

Marx, diferente de Comte, considera que a ciência não está acima do bem e do mal, portanto não é neutra mas é apropriada pelos interesses hegemônicos (econômicos e políticos) da sociedade. A partir de Hegel, ele concebe a história como sendo produzida por homens e mulheres em condições determinadas de produção social da existência que por sua vez também determinam a existência individual. Portanto, enquanto Comte afirma que a história é fruto da evolução do espírito ou pensamento humano, Marx considera que a história é o resultado de forças opostas que se enfrentam no ambito dos antagonismos presentes na produção e nas relações de produção. Nesse sentido, não é o pensamento, não é a ideia que produz o mundo, mas o contrário, o mundo que efetivamente existe - o mundo social e natural - é que produz o pensamento e as ideias.

Para ele a dialética - tese, antítese, síntese - opera por meios de categorias próprias da realidade social, dentre elas a contradição ou princípio da contradição. A apropriação do conhecimento científico e tecnológico pela classe que detém os meios de produção da existência social, ao invés de produzir uma sociedade mais plena, com progresso para todos, ao contrário, produz a danificação da vida de milhares de pessoas e da própria natureza como um todo. Assim, enquanto o positivista Augusto Comte defende a harmonia social, ou seja, a ordem institucional, que significa obediência às leis do Estado burguês, o materia lista e dialético Marx, pelo contrário, afirma que a realidade é movida pelo conflito que gera a transformação para algo novo. Sendo assim, ele é contra qualquer tipo de opressão social e a divisão da sociedade em classes sociais com interesses antagônicos e divergentes.

Mas, como disse no início, talvez, o que vigora, aquilo que é mais senso comum, até mesmo entre alguns intelectuais, são argumentos falaciosos que tentam desmerecer a filosofia de Marx que, com certeza, apresenta pontos que merecem ser devidamente criticados, mas a partir de um esforço acadêmico que transpõe o cômodo lugar da reprodução sensocomunizada de determinadas falácias. Por essa razão, considerar Marx positivista é, definitivamente, no mínimo, preguiça intelectual. Esse tipo de preguiça não acomete apenas a intelligentsa nacional, mas, é fenômeno internacional.

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