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terça-feira, 12 de abril de 2011

DELIBERAÇÕES PARA 13.04 E COMENTÁRIOS SOBRE 06.04.2011


Parabéns Humberto e Wagner, pela qualificada contribuição, em especial pela condução dos trabalhos do último encontro. Abaixo, apresento algumas deliberações para o próximo encontro e teço alguns apontamentos relacionados às questões exógenas e endógenas do debate desenvolvido na manhã de 06.04.2011.

DELIBERAÇÕES PARA O PRÓXIMO ENCONTRO – 13.04.2011:
1)    Finalizar a discussão sobre A estrutura das revoluções científicas. O artigo A epistemologia de Kuhn (conferir na lateral esquerda do Blog, Periódicos Acadêmicos, em Caderno Brasileiro de Ensino de Física - v. 13, n. 3, 1996), disponibilizado pelo Wagner, está bastante ilustrativo. Mas, o contato com a fonte ("original") é recomendável, em razão do conjunto de exemplos desenvolvidos por Kuhn.
2)    Iniciar a discussão do texto Segredos (Capítulo 2) e Coisas jamais vistas (Capítulo 4) do livro de ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Tradução de Antonio Angonese. Bauru (SP): EDUSC, 2001 (pasta da disciplina, na fotocopiadora do IC-IV). Karine e Sérgio Mageski serão os próximos responsáveis pela coordenação (estimular, problematizar, organizar, sistematizar, focar, concentrar o tempo) do debate.
QUESTÕES EXÓGENAS
1.    Primeiro, gostaria de considerar a importância da leitura e estudo prévio dos textos indicados: trata-se de um curso de mestrado/doutorado. A disciplina é um convite ao encontro com alguns clássicos. O objetivo dos textos apresentados não é CONVERTER, mas apenas realizar aquilo que considero ser fundamental no ambiente acadêmico: o encontro com os clássicos. Mas, por que ler os clássicos? Poderíamos aqui repetir o que afirma Ítalo Calvino: “A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos” (CALVINO, 1993, p. 4). É claro que, assim posta, a afirmação parece um tanto enigmática, pois, afinal, por que é preferível lê-los a não lê-los? O clássico não se confunde nem com o tradicional, nem se opõe ao moderno; “Clássico, em verdade, é o que resistiu ao tempo” (SAVIANI, 1991, p. 25) porque “[...] é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial” (SAVIANI, 1991, p. 21). Ele resiste ao tempo, pelo menos, por uma dupla razão. Ele continua a mobilizar questões e temas, a despeito de quando foi escrito. Nas palavras de Calvino, “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” (CALVINO, 1993, p. 2). Mas, como o clássico preserva essa contemporaneidade? Para Calvino, “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível” (CALVINO, 1993, p. 4). Ao se imporem como inesquecíveis, ou se ocultarem na memória, os clássicos influenciam “[...] mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual” (CALVINO, 1993, p. 1). Portanto, livros ou autores clássicos assim o são porque conseguem condensar a riqueza e a profundidade da objetivação (exteriorização da subjetividade) humana em um determinado tempo. Ao conseguirem fazer isso, dialogam com a história futura, pois trazem à baila relações que contribuíram para a constituição do presente e do porvir. Segundo Calvino, os clássicos só devem ser lidos por amor ou por respeito. A exceção, para o autor, constitui-se no ambiente escolar: “[...] a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal um certo número de clássicos dentre os quais (ou em relação aos quais) você poderá depois reconhecer os ‘seus’ clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola” (CALVINO, 1993, p. 3). Ao seguir essa orientação, a disciplina de Fundamentos Filosóficos da Ciência NÃO TEM por objetivo CONVERTER ninguém a nenhum NOVO PARADIGMA; apenas ratifica que os clássicos configuram-se como substância da formação cultural a ser garantida pela academia, pois é por meio da apropriação e do diálogo com eles que se pode desenvolver a autonomia intelectual.

2.    A disciplina Fundamentos Filosóficos da Ciência não é obrigatória, mas parte-se do pressuposto de que um curso de mestrado e doutorado, não se resume a, mas tem como objetivo formar pesquisadores. As leituras propostas podem não ter um vínculo direto, imediato com o objeto e o problema específico de cada projeto de pesquisa, mas o objetivo é ampliar as condições de possibilidades de compreensão dos fenômenos educacionais e da prática de pesquisa (científica). Se a educação é uma ciência, ou um campo das ciências humanas, essa é outra discussão. Ou seja, o que se deseja é tentar conhecer, apreender o que já foi discutido, pesquisado, investigado e analisado em termos de procedimentos próprios do fazer científico; tentar perceber o link, a ponte do que já foi produzido em termos de pensamento e práticas científicas (história e filosofia da ciência) relacionados com os objetos, problemas, inquietações, dúvidas, leituras mais atuais, enfim, ampliar as condições de possibilidades de compreensão dos fenômenos educacionais e da prática de pesquisa.

3.    HERMENÊUTICA: A interpretação esbarra nos limites impostos pelo objeto analisado/interpretado. Cada um de nós pode ter (e é bom que tenha) uma opinião (doxa) sobre qualquer tema. Não obstante, assim como na ciência o objeto é que determina nossa relação com ele, no caso da obra, do texto acadêmico (a depender do artista, também a obra de arte, por mais aberta que ela seja) também nos impõe limites de interpretação. Interpretar um texto não é um vale tudo. Também não confundir interpretar com crítica descompromissada. Mas, antes da crítica é fundamental o olhar atento, assentado, zeloso e paciente com o objeto (o texto a ser decifrado): condição sine qua non para o processo de ruptura com a opinião (doxa). Grosso modo, mestrado e doutorado até podem ter como escopo fortalecer opiniões, ou mesmo compartilhar opiniões diversas sobre temas variados. Não obstante, essa parece não ser uma concepção unânime (ainda bem), sequer compartilhada pela totalidade do corpo docente dos principais cursos de mestrado e doutorado no país.

4.    A falta de leitura prévia do texto tende a provocar e disseminar um desejo, quase que coletivo e incontrolável de levar a discussão para conversas mais “leves”!  Por mais sedutores que sejam os atalhos e bifurcações, é fundamental, ao longo dos debates, centrar nossa atenção no objeto. Para desfocar, é necessário FOCAR! Ainda não compartilho da noção de irônico liberal, proposta por Rorty.
QUESTÕES ENDÓGENAS
1.    Por que Thomas Khun apresenta outra forma/concepção de compreensão da história do fazer científico? Ele rompe com a concepção linear, formalista e ahistórica da ciência. Para ele a ciência, produzida por cientistas (óbvio), carrega as marcas subjetivas, ideológicas, políticas, econômicas etc. dos seus operadores imediatos. Algo inadmissível, para a perspectiva formalista (metódica - positivista e neopositivista) criticada por Kuhn.
2.    Por que, na perspectiva de Kuhn, o desenvolvimento da ciência não acontece de forma cumulativa? Porque quando um paradigma se torna hegemônico, ele não é uma continuidade (lógica) do antecessor, mas, sim, algo eminentemente novo, inusitado. O que há, portanto, é uma ruptura, e não uma continuidade. As bases ontológicas e epistemológicas são outras, completamente diferentes, antagônicas do paradigma antecessor.
3.    O que é um paradigma?  Apesar de a palavra paradigma já existir antes de Kuhn, foi ele quem a trouxe (Estruturas das revoluções científicas) para o âmbito dos estudos de história e filosofia da ciência. Ou seja, o conceito de paradigma hoje utilizado, para se referir à ciência, foi formulado por Thomas Kuhn. Portanto, quando esse termo é utilizado nas ciências humanas, ou mesmo pelas ciências da natureza (física, química, biologia) em geral, a referência é o conceito cunhado por Kuhn. Assim, PARADIGMA é um composto, uma constelação de suposições teóricas gerais, de leis e técnicas para sua aplicação adotadas por uma comunidade científica específica. Há uma linguagem interna, esotérica, própria de cada grupo, comunidade científica. Em outros termos, Kuhn (1998, p. 13), considera paradigmas as realizações científicas universalmente reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.
HARTUNG (ATENÇÃO): O conceito de paradigma, cunhado por Kuhn, não se resume à noção, bastante sensocomunizada no métier acadêmico, que o vincula a: concepção, crença, visão de mundo, modelo, imagem. EXEMPLOS: As leis do movimento (Física) de Issac Newton formam parte do paradigma newtoniano; as questões de Maxwell são parte do paradigma que constitui a teoria eletromagnética clássica. Os paradigmas, de acordo com Kuhn, também incluem maneiras-padrão (metodologia) de aplicação das leis fundamentais a uma variedade de tipos de situação: o paradigma newtoniano inclui métodos para aplicar as leis de Newton aos movimentos planetários, aos pêndulos, às colisões de bolas de bilhar etc. A instrumentação e as técnicas instrumentais necessárias para fazer com que as leis do paradigma se apliquem ao MUNDO REAL também se incluem no paradigma.
SOBRE O PROCESSO: Pré-Ciência: É o momento em que não há um paradigma (único) compartilhado pela comunidade científica, mas, sim, atividades desorganizadas, diversas e desestruturadas; CIÊNCIA NORMAL: Aqueles cientistas que trabalham dentro de um paradigma praticam o que Kuhn denominou de ciência normal. O/a cientista normal articula e desenvolve o paradigma em sua tentativa de explicar e de acomodar o comportamento de alguns aspectos relevantes do mundo real tais como revelados através dos resultados de experiências. Quando isso acontece, o/a pesquisador/a experimenta dificuldades e encontra falsificações aparentes. As dificuldades que fogem ao controle, um estado de CRISE se manifestará.
Como se resolve a crise? Quando surge um paradigma inteiramente novo que atrai a adesão de um número crescente de cientistas até que eventualmente o paradigma original, agora problemático, é abandonado. A mudança descontínua constitui-se em uma REVOLUÇÃO CIENTÍFICA. O novo paradigma, repleto de promessas, orientará a nova atividade científica normal até que também encontre problemas sérios e o resultado será uma outra revolução.
CIÊNCIA MADURA: Dominada por um único paradigma. Este determina os padrões (teóricos, metodológicos) para o trabalho legítimo dentro da ciência que governa. Ele coordena e dirige a atividade de solução de enigmas do grupo de cientistas normais que trabalham em seu interior.
PRÉ-CIÊNCIA: A existência de um paradigma capaz de sustentar uma tradição de ciência normal é a característica que distingue a ciência da não-ciência.
PROBLEMA: Por que Kuhn não considera a sociologia (talvez todas as ciências sociais), como ciência? Para ele, só é ciência a atividade cuja comunidade compartilha um único paradigma.
AS CRÍTICAS: Além do problema, acima apresentado, iremos, em momento oportuno, debater sobre alguns impasses da perspectiva kuhniana de história da ciência.


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