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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Visita do Prof. Dr. Maurício Abdalla

Algumas questões debatidas com o Prof. Abdalla: legitimidade do discurso científico, academia/instituição científica como espaço de produção do discurso científico; delimitação entre ciência e não-ciência; diferença entre ciências humanas e ciências naturais etc.

Na ânsia de se constituir como um campo científico, as ciências humanas importam princípios, métodos, categorias e conceitos próprios das ciências da natureza (física, química, biologia). Ao mesmo tempo em que se critica a ciência, ou mesmo a ciência moderna, uma parcela considerável de cientistas sociais, seduzidos pelos avanços teóricos e pelas discussões que ocorrem no campo das ciências da natureza, acabam por reproduzir, mecanicamente, categorias e conceitos apropriados apenas para esse campo específico. Sem contar que as transposições conceituais e categoriais são realizadas de forma superficial e anacronicamente dadas como verdades inabaláveis
As ciências sociais, ou melhor, a sociologia teve início justamente com essa importação da matemática e da física (Comte considerava a sociologia uma física social) para se constituir como ciência de fato. A agenda pós-moderna e as teorias pós-críticas, ao criticarem a ciência moderna (mecanicismo) e para se desvincularem do positivismo, acabam por cair no ponto extremo. Criticam a ciência moderna (com todo direito que é próprio do campo acadêmico e científico), mas, continuam com o complexo de patinho feio, pois ao sentirem a necessidade de se fundamentar epistemologicamente, precisam mostrar, para o universo acadêmico, que possuem legitimidade, statuto epistemológico. Este, por sua vez, é importado da Física (quântica, caos, complexidade), da Biologia (autopoiesis, determinação gênica) etc. Não por acaso, é possível afirmar que a agenda pós-moderna e o neopositivismo são antipodas solidários (DELLA FONTE, 2010 - cf. artigo nesse Blog).   
A carência de fundamentação filosófica e científica dificulta uma relação menos passiva por parte do público acadêmico que incorpora os sedutores discursos pós de forma heterônoma. Em linhas gerais, tem havido uma recorrente equiparação, transposição linear e mecânica de procedimentos, categorias, conceitos próprios das ciências naturais para o campo das ciências humanas e uma insistente tentativa, por parte de intelectuais responsáveis pela formação das futuras gerações de professores e professoras, em tomar inexorável essa perspectiva pós-crítica, simplesmente porque o discurso desejoso assim o quer.  
Continua...

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