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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Escola, educação escolar e apropriação da cultura

Ontem, no nosso último encontro do ano, recebemos o Prof. Dr. Laércio Ferraciolli, integrante do PPGE/UFES (linha de pesquisa Educação e diversidade) e também do Programa de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) em Física.
Nossa conversa girou em torno do livro A estrutura das revoluções científicas, (Thomas Kuhn). Ferraciolli iniciou o encontro com uma breve abordagem sobre a história do livro de Kuhn e relatou a polêmica que movimentou parte considerável de cientistas logo após a publicação, em 1962. A ideia de paradigma abalou as estruturas da história da ciência e isso foi sentido não apenas no âmbito das ciências da natureza (física, química, biologia), mas, também, no campo das ciências sociais.

Alguns pontos debatidos:
1) realizar uma terceira cultura (Snow) que permita o diálogo entre a cultura científicanão científica. Esse diálogo pode evitar muitos problemas em relação ao conhecimento acadêmico e da sociedade como um todo. Atualmente a ciência é divulgada pelos meios de comunicação que, com características próprias da indústria cultural e da sociedade do espetáculo, transformam-na (a ciência) em um entretenimento ou um conhecimento para poucos. A caricatura do cientista como alguém sem vida pública ainda vigora. A indústria cultural, com suas revistas e demais aparatos de divulgação, tenta, ao máximo, fazer com que esse imaginário se perpetue. Contudo, há uma contradição nesse processo e procedimento: 1) ora a ciência é vista como o ápice do progresso da humanidade e os cientistas aparecem como substitutos de Deus, haja vista como os programas de entretenimento ou mesmo os telejornais e demais programações televisivas se apropriam da figura do cientista e da ciência para legitimarem determinados discursos que fortalecem determinadas políticas; 2) há, também, uma tentativa, mesmo que velada, por parte dos operadores e gerentes dessas redes responsáveis pela divulgação de parte das "descobertas" científicas, a tornar a ciência algo misterioso, não possível de se compreender e, também, como a vilã mor de todos os males da humanidade. Ao mesmo tempo que se enaltece, percebemos o movimento contrário de negação da ciência. Nesse sentido, como carecemos de uma devida, transparente e necessária alfabetização científica, a esfera pública em geral não consegue sair das malhas dessa emaranhada rede de sentidos múltiplos que mais confunde do que ajuda a compreender os procedimentos do universo científico, o fazer do cientista e as suas relações com a sociedade, com a política, com a cultura e a existência como um todo.
2) Necessidade de uma alfabetização científica. A educação básica carece desse necessário processo de apropriação das bases que fundam o fazer científico: compreensão dos conceitos, das categorias, da relação extra-ciência - políticas, econômicas, culturais etc.
3) A apropriação indevida de conceitos oriundos da física ou de outras área das ciências da natureza (física, química, biologia) transpostos de forma aligeirada, sem o devido cuidado em conhecer o real significado que tais conceitos ou categorias têm para o campo de origem. A transposição de conceitos como complexidade e caos foi um exemplo citado. Será que a teoria da complexidade e/ ou teoria do caos, tal como se apresentam no campo da física teórica pode ser aplicada, ipsis liteis, ao campo das ciências humanas? Por que realizar essa transposição? As ciências da educação não podem se utilizar de conceitos que são próprios da área? Será que quem os utiliza efetivamente sabe o que significam?
4) A ciência não é autoritária. Autoritário é o senso comum. Por isso a necessidade de se conhecer, ter a devida alfabetização científica (bem como estética, filosófica, tecnológica);
5) A escola deve se preocupar com a forma de apropriação dos saberes escolares. As crianças chegam à escola interessadas em realizarem uma interatividade entre as áreas, os saberes. Será que é possível, hoje, a escola ficar ainda no modelo do cuspe e giz? O que fazer para que haja esse processo de interação entre as novas gerações e os atuais e possíveis procedimentos metodológicos? O que a escola pode fazer e precisa oferecer?

QUESTÕES IMPERTINENTES

1) Para fazer ciência é necessário que o seu resultado seja uma aplicação imediata, relacionado à prática ou é possível fazer ciência com um perspectiva não imediatista, na qual a Teoria apareça como ancila da prática? (Pergunta da Ilza Côco)

2) É fundamental a apropriação da linguagem produzida pela comunidade científica, pois é a partir de uma determinada linguagem que os cientistas dialogam entre si. Contudo, não é a linguagem que constrói o mundo, mas, dela não podemos prescindir enquanto seres humanos. (Ilza Côco);

3) Os alunos do ensino médio chegam à universidade com uma grande defasagem em termos de conhecimento básico e isso dificulta a realização de um trabalho mais apropriado ao universo acadêmico científico. É possível mudar essa realidade? Vamos esperar que o ensino médio melhore ou vamos tomar a dianteira desse processo?

4) Há um déficit bastante alto em relação aos profissionais das engenharias, da física, da matemática. Há poucos engenheiros no Brasil; há poucos físicos e poucos matemáticos. Assim como há poucos professores de física e matemática. Por que isso acontece? Por que nossos alunos não escolhem essas profissões?

5) A física e a matemática são difíceis ou a forma como são ministradas na educação básica é que afasta os alunos e isso gera um círculo vicioso?

6) Afinal, a formação continuada do professor deve ser em serviço, e com sua pesquisa voltada eminentemente para os problemas relacionados à sua prática imediata ou pode haver um afastamento, com uma pesquisa não necessariamente relacionada ao seu cotidiano ordinário?

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